quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Uma cura que não é cura

 Francisco, de 41 anos, mais conhecido por Madeira, terra que o viu nascer e mais tarde se perder. O bairro das Malvinas era o seu lar. A sua família numerosa, de 7 irmãos, com poucas condições económicas viu o pai falecer muito cedo. Um futuro à descoberta, com a adolescência e a curiosidade à mistura, levou a que experimentasse as primeiras drogas leves.   

 Aos 15 anos era tudo simples, desde o acesso ao consumo e à sensação de controlo e de euforia. “O que me dava adrenalina era o facto de ser algo ilegal e de me fazer sentir popular”, fala Madeira do seu primeiro contacto com este mundo.

 Com apenas 16 anos já injetava heroína, fumava três maços de tabaco por dia e bebia imenso álcool. Neste momento ponderou que a solução seria desistir da vida – “Com o sofrimento da minha família só pensava que seria menos um vagabundo no mundo”.

 Saturado, começou a ponderar um tipo de vida diferente aos 22 anos, nesta altura decidiu iniciar um tratamento numa instituição da Ilha da Madeira, no entanto, com os poucos recursos que despendia ficou numa lista de espera durante três anos. Sem fundamento de vida, sem esperanças, deixa o trabalho que lhe sustentava o vicio e caí nas ruas da amargura começando a roubar – “Tinha consciência que era errado, mas tinha necessidade de o fazer”. Esses três anos de espera foram os mais penosos, para além de roubar “comecei a consumir 24 sobre 24 horas heroína injectada, não aparecia em casa, o que deixava a minha mãe preocupada e, para continuar a alimentar o vicio cheguei a traficar”.

 Em 1999, com apenas 25 anos de idade, a família, depois de muita luta, consegue abrir uma oportunidade na Reto à Esperança, uma organização sem fins lucrativos, de ajuda gratuita a pessoas com problemas de toxicodependência, alcoolismo e marginalidade social. A maior dificuldade prendia-se com a localização da associação: “Rumo ao continente tornava-se cada vez mais difícil desprender-me da Ilha da Madeira. Tinha um irmão em Portugal continental, mas não me relacionava com ele há vários anos.”

 “Quis mudar de vida, foi a única condição que a Reto à Esperança me impôs. Após 10 anos de consumo de substâncias parecia que o ponto de viragem seria fácil”. Contudo, Madeira foi sujeito a uma terapia de choque, sentiu os efeitos da ressaca sem qualquer tipo de  analgésico, o que o fez perceber as consequências das más escolhas que fez.
 
 Francisco passou praticamente dois meses sem dormir devido aos efeitos da ressaca, no entanto, ressalva que “O tratamento que o Estado nos propõe fora das instituições não é cura. Não somos nenhuns doentes crónicos para ser tratados com medicamentos que só têm efeito quando os tomamos. Uma droga não substitui a outra.”

 A instituição foi um meio para dar um ponto de viragem na vida de Madeira, mas a vontade já partia dele. “Eu era feliz no meu egoísmo, tendo droga para consumo. Agora a minha felicidade é ajudar os outros que passam por aquilo que eu passei.”
“Posso ficar com o rótulo de toxicodependente, mas neste momento isso já não me afeta. Virei a página.”







 


Portugal Nas Ruas Da Amargura

 Vivemos num país que se diz democrático. Mas nós somos efetivamente democráticos? Votar? "Que diferença faz?" é a resposta da grande maioria dos portugueses. Abstenção? Por vezes chega a ultrapassar os 50%.

 Estamos perdidos nas ruas da amargura. Desacreditados no sistema político. Bancos na falência, pobreza crescente, inquietações constantes e soluções bem distantes.

 Palavra de ordem do dia: CRISE. Mas o que é isto da crise? O dicionário dá-nos algumas definições: "Conjuntura ou momento perigoso, difícil ou decisivo; Falta de alguma coisa considerada importante; Desacordo ou perturbação que obriga instituição ou organismo a recompor-se ou a demitir-se.", entre muitas outras. 

 A crise é muito mais que uma palavra, que uma definição, é vivida e sentida na pele pela população portuguesa. Mais que meros números, somos humanos que merecem dignidade, que neste momento é esquecida, mas não podemos desistir. Não votar não resolve!!! Adia o problema.


Um Caminho Doloroso Mas Necessário

 Um canudo às costas e a escalada para encontrar emprego inicia-se. É uma nova vaga de emigração que pouco se sabe.

 Jovens denominados de tudo e quase nada. De geração à rasca, à geração desenrasca, a verdade é que têm um pouco de ambas. Num país que se encontra de costas voltadas para a sua população jovem, qual a solução?

 Ano após ano de investimento na sua formação para depois verem-se obrigados a deixar o seu país que não os deixa serem adultos.
No fundo, é um novo e ao mesmo tempo bem antigo fluxo de emigração. Razões diferentes, motivos iguais, procura por uma vida melhor.

 De malas feitas procuram algo que lhes garanta estabilidade financeira. Dia após dia o desânimo de milhares de jovens tem fundamento. O país não oferece nada mais para além da formação. Eles querem mais, exigem mais, e com todo o direito.